sábado, 5 de junho de 2010




Às vezes queremos tudo de uma só vez. Queremos sonhos realizados, projectos cumpridos, tempo para tudo. Queremos acelerar os acontecimentos, saltar etapas, ser perfeitos em tudo. Queremos ser felizes, como se tudo dependesse de um final qualquer. A culpa é dos livros que nos liam em crianças, coisas hediondas como a Branca de Neve, Cinderela ou a Bela Adormecida. Não é dos contos em si, é daquelas expressões ridículas do "Felizes para Sempre". Posto isto, procuramos desenfreadamente esse final, onde tudo será certo, onde os sentimentos negativos não existem, onde vamos ser felizes todos os dias, todos os minutos, para esse "sempre". Só que eu não percebo esse sempre. Eu também gostava de ser feliz assim mas não vai existir esse ponto sem retorno onde tudo estará feito e só vai restar ser feliz. Porque se pensar nisso, vou pensar que estagnei, que a vida não tem mais sentido nenhum. Quero ser feliz com tudo o que vou realizar daqui em diante. Quero ser feliz se me renovarem o contrato por tempo indeterminado e no dia em que me pedirem oficialmente em casamento. Quero ser feliz no dia que disser o sim a uma vida em conjunto ou no final de um mestrado ou especialidade. Quero ser feliz se conhecer Barcelona, Roma, Nova Iorque, Rio de Janeiro. Quero ser feliz se for mãe. Quero ser feliz se o meu irmão se casar. Quero ser feliz se conseguir dar aulas numa universidade. Quero ser feliz se os meus pais completarem 25 e 50 anos de casados. Quero ser feliz se os meus avós completarem 75. Quero ser feliz se os meus amigos conseguirem ser felizes. Quero ser feliz se conseguir comprar um carro. Quero ser feliz se editar livros. Quero ser feliz se for sempre saudável.


E digo sempre "se". Porque eu sonho muito mas não deixo de estar bem segura à terra. E porque sei que a felicidade é efémera. E porque tenho de aprender a esperar, a levar as coisas ao meu ritmo e não ao dos outros. Porque já sou feliz, apesar de tudo.

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