terça-feira, 28 de junho de 2011

Das relações perfeitas

Não acredito em relações perfeitas e quem acredita é porque nunca esteve seriamente envolvido numa. Se partimos do pressuposto que as pessoas são imperfeitas, torna-se claro que uma relação ou uma interacção sofrerá com imperfeições.
Houve um tempo em que eu acreditava que isso era possível. Lá está, porque nunca tinha estado numa. Depois houve um tempo em que não percebia porque é que tinha de haver discussões parvas, amuos, tristeza, distância emocional. Agora acredito que, que quando duas pessoas (se) querem muito, conseguem crescer juntas, conseguem ser felizes juntas. Mas isto não é um processo contínuo. É um processo com recaídas, com momentos de tudo. Às vezes pensa-se em desistir para, no momento seguinte, se querer voltar a tentar. É preciso errar e aprender muito juntos. E daí que eu desconfie sempre quando tudo parece perfeito, porque era bom que fosse. E pior do as pessoas enganarem os outros, é enganarem-se a si próprias.

domingo, 26 de junho de 2011

Do verão

É assim que gosto, de sentir a alma quente. Da leveza de t-shirts, calções e sandálias rasas. De branco, muito branco. Da descontracção. É assim que gosto de um céu azul-forte. Dos dias imensamente dias, com noites pequenas mas amenas. Do cheiro a praia e a descanso. É assim que gosto do verão. Tão imensamente louco e díspar.

domingo, 19 de junho de 2011

Sabes do que tenho saudades? Do teu sorriso inocente. Da forma como piscas o olho. Do teu cabelo branco. Da forma como cruzas os braços. Da forma como amas a avó. De quando me bates na mão quando tiro só os amendoins da tarte de amendoins.
Tenho saudades tuas e não me deixo de culpar por não ter comemorado o teu aniversário contigo. Este ano teve de ser por telefone. E tu recusaste uma festa porque eu não estava. Tu disseste que andavas a sonhar muito comigo e que eu estava sempre a chorar nos teus sonhos. Bem sabes que não sou forte. Que não sou como tu. Mas isso fica entre nós. Eu gosto tanto de ti avô. Eu choro só com a ideia de que um dia, o teu aniversário vai ser o último. De que um dia podes ficar a agoniar numa cama de um hospital. De que um dia possas precisar e eu esteja aqui, longe de nós. De que um dia um médico ou um enfermeiro te virem as costas quando chamares por eles. Porque nunca ninguém vai saber o quanto lutaste, o quanto trabalhaste, o quanto de criança ainda tens. Porque pouca gente te conhece, apesar de seres querido por tanta gente. Nunca me vás embora. 

terça-feira, 14 de junho de 2011

Viver em conformidade

(Nós) as pessoas mudam constantemente de opinião. O que hoje não é nada, volvidas horas e já é tudo. O que ontem fez rir, hoje traz-nos lágrimas. Temos dúvidas que passam a uma velocidade da luz a certezas. Queremos ser felizes mas depois não lutamos. Num momento somos amarelo para passarmos, no momento seguinte, a sermos azuis.
Apercebo-me que a condição humana é assim. Antes achava um defeito. Não percebia que as pessoas tinham o direito a mudar consoante as suas luas. Eu tentava ser tão coerente. E ainda tento. Mas mais do que isso, é a velocidade a que a realidade muda. E nós mudamos com ela, tantas vezes involuntariamente. Se não fosse assim, provavelmente seria tudo um tédio e nada nos poderia surpreender.

domingo, 12 de junho de 2011

Dos (nossos) domingos

Como são cinzentos os nossos domingos de despedida. Como é tudo tão imperfeito depois que o teu corpo se desmagnetiza do meu. E por mais planos que possamos guardar com doçura, nada apaga a crueldade de tantos domingos assim.

domingo, 5 de junho de 2011

Diário de uma Enfermeira #3

Hoje odiei enfermagem. Portanto escrevo mesmo com letra bem minúscula. Exasperei-me, questionei-me porque é que meti na cabeça que queria saúde. Eu sou de letras. Sou mesmo. Farto-me de doenças. De pessoas que não dão valor ao nosso trabalho. De desorientações.
Hoje um doente bateu-me e eu odiei-me por lhe virar as costas tão ferida interiormente. Porque ele estava confuso. E ao mesmo tempo tão assertivo. Porque me humilhou como profissional e como pessoa. E mesmo tendo uma alteração tão repentina da consciência, mesmo sabendo que aquele utente não era ele mas uma disfunção neurológica, eu virei-lhe as costas com tantas lágrimas reprimidas. Não lhe respondi. Não o acalmei porque passei o dia nisso. Desisti. Desisti de o ajudar quando a persistência e a paciência têm de ser requisitos da minha profissão. E hoje estou assim. Farta.