segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O que escrevo eu quando não sei o que escrever, quando escrever é aquilo que me liberta do meu lado obscuro?
[ Porquê? Não posso ter um lado obscuro?]
O que escrevo eu quando os meus alicerces são água e o meu chão uma jangada de madeira? Ou o que escrevo quando as minhas ideias são tantas e incoerentes, sem matéria que as envolva e as estruture?
[Quem decidiu que as ideias têm de estar estruturadas? Que os parágrafos têm de ter ligação?]
O que escrevo em dias destes, de futilidade literária?
[Ou o que escreverei quando terminar Lev Tolstoi e o seu Anna Karenina?]
O que escrevo se me ensinaram que tudo é matéria e eu me sinto a anti-matéria? Existirá, de verdade?
[Hoje não sei o que escrever. E tenho tanto para dizer. Até amanhã.]

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Pudesse eu dizer mais do que digo, por vezes. Porque não são raros os momentos em que eu tenho tanto para falar que depois encolho-me, fico calada e esqueço. Para quê? O silêncio pode valer tanto... E eu gosto quando me adivinham os pensamentos. A sério que gosto.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Das pessoas que levam tudo a sério

O que eu acho engraçado em algumas pessoas, é o seu sentido de humor. É o não levarem isto demasiado a sério. Não gosto de pessoas que levam a vida muito a peito, que acham constantemente que o mundo e o carmo e a trindade lhe vão cair em cima. Pessoas depressivas, que nos sugam o sol, qual Dementors nos livros do Harry Potter. Não gosto dessas pessoas baças, iguais. Tiram-nos logo o ânimo, o brilho. Acreditem em mim, a vida não é mesmo para levar demasiado a sério. É que acabamos só a sobreviver.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

As pessoas vivem num teatro, numa peça que inventaram sem grande argumento, mas que as faz representar continuamente. Pouco do que fazem é espontâneo. É tudo pensado, ensaiado, sem graça nem sol. Por vezes é um cinzento tão triste, que não entendo porque não preferem actuar numa comédia.
As pessoas fingem sentimentos, fingem sofrimento, compaixão, felicidade, extase, lágrimas. Não sei como é possível tanta versatilidade. São mesmo boas no que fazem. Por vezes sou espectadora, fico na plateia. Não aplaudo. Saio antes da peça terminar porque não consigo fingir, compactuar com tanta falsidade. Outras vezes chamam-me ao palco e eu também represento. Dizem que se não representarmos, não somos sociedade. E é mesmo verdade. Somos metade actores, metade público. E isto repulsa-me.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Tenho sempre de chorar quando te vais embora? Não é suposto ser assim. E não é justo.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Green eyes

Antes que venha por aí mais uma tormenta, que nos leve estes dias bons e nos traga mais semblantes cinzentos, deixa-me dizer-te novamente que és a minha casa. Deixa-me dizer-te que eu não sou como os outros, que sabendo que chegas às 21h já começo a ser feliz às 18h. Não. Eu só sou feliz quando chega às 21h e tu estás à minha espera, para me puxar para ti com um beijo prolongado, para me prometeres que nas proximas horas não existirão mais medos nem saudades. Deixa-me dizer-te que ninguém tens os olhos mais verdes e mais bonitos do que tu. Que ninguém me abraça melhor que tu. Que ninguém me conheçe como tu.
Não interessam os momentos separados, que superam sempre os outros. Não interessam porque a eternidade pode ser nossa e é nisso que acredito quando a saudade me aperta tanto o peito e o medo de nunca mais te ver é sufocante. Se eu gostava de fazer um forward? No fundo não. Ainda há tanto para aproveitar. Mas também sei que ainda há muito para lutar, para não deixar morrer isto, para não desesperar com a distância.
Portanto, deixa-me dizer-te que tormentas há muitas. Discussões nunca vão acabar. Mas que me sabes amar de uma forma avassaladora, mesmo nas coisas mais simples. Porque é nessas pequenas coisas que mais te amo. Nas nossas semelhanças, nos nossos sonhos e objectivos, nas nossas brincadeiras, nas nossas conversas, nas nossas mensagens, nos teus abraços como se não houvesse futuro nem passado.
Deixa-me dizer-te que às vezes sou uma criança porque sou ingenuamente feliz contigo. Porque te quero tanto que me continua a custar imenso deixar-te nas várias despedidas. Que os 300 quilómetros que quase sempre nos separam são a prova mais dura que tenho de ultrapassar contigo.
Deixa-me então agradecer-te porque consegues fazer-me apaixonar por ti ciclicamente. E isto (tu), é o melhor de tudo.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Não são raras as vezes em que as pessoas falam para mim e eu fico calada, pensativa. Invariavelmente perguntam o porquê da minha reação. Normalmente digo que não é nada quando, normalmente, foi tudo. Foi uma palavra, uma situação, um tom, um leve indício que me agitou os pensamentos e os fez sair. Eu devia saber disfarçar, até porque é de uma reação vulgar que estamos a falar, mas ser actriz nunca foi uma vocação.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Foi mais uma noite má. São olheiras, cansaço muscular, cefaleia intensa como se estivesse de ressaca e irritabilidade. Aguardaremos boas horas de sono, quentinha e descansada, sem despertador e sem turnos nos proximos dias. Eu adoro aquilo que faço, a sério. Mas trabalhar à noite, ui, é um campeonato à parte.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Hoje está a custar. Mais do que sempre e do que todos os outros dias e partidas. É por pouco tempo, eu sei. São só três turnos.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Consegui ter uma noite de sono revigorante, finalmente. Já me andava a assustar. Pode ter sido do chá de cidreira, do sono acumulado, de estar na minha casa, no meu quarto (e não na casa alugada do local onde trabalho) ou então de qualquer outra coisa. Soube bem, tão bem.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Diário de uma enfermeira #2

Foi mais uma noite a trabalhar. Uma noite de gritos por toda a enfermaria, que ainda ecoam aqui pelos meus neurónios e que provocam sinapses explosivas. O cérebro humano é fascinante, sem dúvida. Mas, como tudo, tem o seu reverso. Uma pessoa desorientada pode não saber onde está, que horas são, quem é. Uma pessoa desorientada é capaz de se magoar sem sentir, de agredir sem ter intenção, de gritar sem dor. E isso arrepia-me. Mais do que me exasperar sem saber o que fazer, sem entender porque é que a medicação não lhe faz efeito, é arrepiar porque aquela pessoa não é ela mesma. É uma transformação, talvez um heterónimo, uma vaga lembrança do que foi. E agora está ali, agitado, capaz de arrancar um catéter central, uma sonda; capaz de me agredir, de me maltratar com palavras; incapaz de ter noção de que a restante enfermaria não descansa, mas pulsa ao som de cada grito de guerra, de cada intempérie de palavras imperceptíveis.Aquela pessoa continua a ser uma pessoa, a necessitar de todos os cuidados que uma pessoa merece. E ao mesmo tempo recusa, debate-se numa luta interior.

Estou cansada. Muito mais que a cefaleia, que o sono, estou meramente cansada de ver pessoas sofrer. Isso apenas.