segunda-feira, 18 de março de 2013

Eu já não sei escrever. As letras, sempre tão amigas, tão presentes, as palavras que rimavam sem serem convidadas, sequer, a aparecer. Não sei quando perdi o gosto. Não sei quando me abandonei demasiado a mim mesma e aos meus pensamentos e me esqueci de exteriorizar a revolução que ia cá dentro. Não sei.

Não me tornei numa pessoa menos irónica. Não me transformei numa pessoa menos reflexiva (pelo contrário). Não deixei de ter dúvidas nem medos (antes tivesse). Continuo a ter opiniões, a ter necessidade de falar mas olho para uma folha e todos os meus sentidos se alteram, toda a minha distracção se enovela e se mistura com ideias sem nexo. Não sei escrever. Nunca soube, convenço-me agora. Não sei dizer nada porque todo o meu mundo é, agora, demasiado real e eu já não sei fantasiar. Já não sei brincar com o abstracto. Que falta que isso me faz, sabem? Mas nem tudo é mau. Se já não me apaixono por palavras, adormeço a encontrar a música. Exploro os meus limites físicos e a minha resistência em bicicletas e corrida. Dedico-me a transformar ingredientes em pratos bons. Aprendo a viver comigo e com a solidão de quem já não sabe bem onde vive nem que cidade é sua (e esta Coimbra que já me (des)encanta há 8 anos). Aprendo que tomar um café a ler o jornal e a estudar as pessoas à volta é dos vícios mais relaxantes. E, claro, tenho sempre os meus livros. Podem levar-me tudo menos o gosto por ler. Aposto a vida em como vou retirar sempre o maior prazer da leitura.

Esta sou eu, já sem saber dizer coisas bonitas. Esta sou, a arranjar desculpas para não sentir falta desse heterónimo.

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