segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Arriscar


Eu acho que às vezes nos acomodamos demais com aquilo que temos. Não é que toda a gente tenha de ser ambiciosa. É só que o sofá é demasiado cómodo e, com o tempo, até pode ficar com a forma do nosso corpo, impedindo-nos de nos sentirmos confortáveis noutra posição, noutro local, noutra vida. Eu, mui nobre insatisfeita persona, sinto-me a afundar nesse sofá. Está tudo igual há muito tempo. Os mesmos velhos medos, as mesmas promessas, as mesmas desculpas, os mesmos caminhos e as mesmas palavras. A rotina é boa, sim. Mas sair dela, de vez em quando, é ainda melhor. Já não tenho paciência para o "fazer as malas e desaparecer". Isso é muito à teenager. Não é isso. É mais deixar de ser sempre arroz quando pode ser massa; é mais o arriscar; o dizer e assumir "não me apetece" quando não apetece mesmo, em vez de fingir e fazer o frete; é responder a primeira coisa que nos vem à cabeça; é sair de casa como se fosse para uma festa; é dançar frente ao espelho; é esquecer as calorias e comer o belo do crepe com gelado; é esquecer que se vai trabalhar no dia seguinte e ficar à conversa boa; é acordar tarde quando podemos e queremos acordar tarde; é ir com o mp4 no volume máximo e cantar; é procurar o hobbie perfeito; é acabar quando uma relação já acabou há muito; é voltar ao passado só porque sim; é apaixonar-se à primeira vista; é ir viajar por esse mundo fora, quando assim podemos. É andar à chuva de mãos dadas; ficar incontactável uns dias só porque nos apetece; ir ao Mc Donalds porque não nos apetece cozinhar um dia; é dançar em frente a outros da forma que nos apetece, mesmo que seja de forma muito sexy; é amar loucamente à frente de uma lareira; é mentir quando sabemos que não prejudica ninguém. Essencialmente é isso. Sermos nós, sempre.

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