domingo, 19 de maio de 2013

dos cabelos brancos

O que me chateia quando encontro um é perceber que não vou para nova. Os cabelos brancos fazem-me temer o que já passou, porque já passou tanto e eu já tenho vinte e seis anos. Vinte e seis anos que me recordam que a vida adulta já chegou. Parece que ontem tinha quinze e estava a sofrer o meu primeiro desgosto amoroso, ao colo da minha mãe, a chorar baba e ranho. Parece que ontem tinha 18 anos e estava feliz da vida com os melhores amigos que podia ter e com a perspectiva de entrar na faculdade. Parece que ontem sofri um choque quando, através da internet, vi que tinha sido colocada em Coimbra. Parece que ontem tinha 19 anos menos um dia e acabara de passar no exame de condução. Parece que ontem tinha 20 anos e tinha toda a certeza do mundo que nunca ia haver amor como aquele e que nunca ia encontrar ninguém tão imperfeitamente perfeito para mim. Parece que ontem tinha 21 e estava a iniciar o meu namoro com o meu amor. Parece que foi ontem que me inscrevi e fiz Erasmus. Parece que ontem tinha 22 anos e estava a andar a primeira vez de avião, com uma das minhas melhores amigas, rumo a Londres. Parece que ontem tinha 23 anos e estava a terminar a primeira semana de trabalho no serviço onde ainda hoje estou, a chorar de felicidade por estar a fazer o que realmente gostava e tinha estudado para, com pessoas fantásticas. Parece que ontem tinha 24 anos e caí na tontice de preencher os meus dias com um mestrado. E isto passa, pessoas, a um ritmo verdadeiramente insano que me deixa tonta quando olho para trás. Calma aí. Eu ainda não fiz um inter-rail. Eu ainda não fiz uma road trip. Eu ainda não fiquei noite adentro, com os meus amigos, na praia, com uma fogueira, música e gargalhadas. Eu ainda não fui a um concerto com o meu irmão. Eu ainda nada, ponto. E depois, olho para trás, e já tanto. Que dualidade. Que estranheza esta que tragos.

E os cabelos brancos estão aqui. Ainda que poucos mas já a fazerem-me lembrar que isto ou se aproveita ou não dá para pensar no futuro. Porque o meu futuro, estão-me a condenar com cortes salariais, com cortes na saúde, com cortes na eventuais reformas. Porque me estão a hipotecar um futuro que eu pensava longínquo. E o meu futuro é hoje. As pessoas já esperam mais de mim. Já ninguém me pergunta como corre a escola, que área vou escolher ou se já arranjei trabalho. As pessoas perguntam-me quando é que me caso, quando é que tenho o primeiro filho, quando é que venho trabalhar para perto de casa. E isto chateia-me.

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