quinta-feira, 5 de julho de 2012

Das minhas noites de trabalho ou como preferia ter outra profissão.

A minha noite de ontem foi a velar o sofrimento de uma pessoa que há menos de 3 semanas era completamente independente. Essa pessoa tinha uma história, uma família, uma doença, um trabalho e estava a morrer-me aos bocadinhos. 
A indicação era de não reanimar, de não alimentar, de não nada. Apenas paracetamol de 6/6h por via endovenosa. E eu pergunto-me: que merda de cuidados são estes? Deixa-se uma pessoa a agoniar, consciente? Prepara-se a morte sem se querer realmente saber da pessoa que morre? Não bastou o diagnóstico com uma evolução tão rápida e ainda se virar as costas, ir dormir para casa e deixar que o enfermeiro do turno da noite se desenrasca-se a gerir aquela metade de vida? Eu não sei mesmo que médicos são estes, que realidade é esta, que falta de conhecimentos tão grande. Porque era apenas necessário uma perfusão de morfina para devolver ainda alguma paz, alguma dignidade, algum sentido.
Isto revolta-me, a sério que sim. Para quê sofrer tanto? Morrer com falta de ar, com dor, com desconforto, com tudo a que não se tem direito. Continuo sem perceber que cuidados são estes.

Por isso, quando já no final do meu turno a pessoa morreu, eu estava lá a dar-lhe a mão, a conversar, e assisti ao fim da linha. Pedi-lhe que fosse em paz, já que a paz foi coisa que era o seu direito e que não lhe quiseram dar.

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