segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Diário de uma (noite) Enfermeira #5

Estavas com as pupilas dilatadas. Os teus olhos tão abertos, tão esbugalhados. Fixos em lado nenhum. Estavas sudorética. Mas os teus olhos. Os teus olhos não me saem da cabeça. Gritei o teu nome. Chamei-te. Abanei-te. E continuavas na tua letargia. Não era possível, deixei-te a dormir e tinha-te exorcizado os fantasmas. Como podias estar assim? Pensei em tudo e fiz-te a picada no dedo. Os teus diabetes estavam-te a matar. Como te estão matar desde os oito anos de idade. És tão nova ainda e já tão revoltada, tão doente, nem tu sabes o quanto. 
Glicose a 5% directa na corrente sanguínea. Soro glicosado e devolvo-te a vida. Mastaste-me de susto, miúda. Mais 5 minutos e tinha-te perdido. Tremo agora. Mas salvei-te. Salvei-te da ignorância que teimas em manter porque queres sempre controlar tudo. Apeteceu-me gritar-te para nunca mais andares a administrar a insulina que queres sem o nosso conhecimento. Apeteceu-me mas em vez disso passei-te a mão no rosto e devolvi-te o sono. 

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